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Fluxo de consciência em A Paixão segundo G.H.

Olá, aventureiro(a)!

Em agosto, lemos “A Paixão segundo G.H.”, de Clarice Lispector, no Clube Aventuras na Leitura (clube de leitura 100% on-line).

Sem dúvidas, um dos livros mais desafiadores que já li. Mas não entenda isso como algo negativo.

Ler as obras de Clarice vai além de entender o que ela escreveu; ler as obras de Clarice é SENTIR. E quantos sentimentos vieram à tona com a leitura de A Paixão segundo G.H.

@ profkellycominoti

Isso se deve diversos fatores, mas, principalmente, ao fato de Clarice Lispector inovar na literatura brasileira trazendo para a obra o recurso denominado fluxo de consciência (conhecido no exterior nas obras de Virginia Woolf e James Joyce) ou fluxo de pensamento. Como o próprio nome já diz, é um mergulho, uma imersão na mente humana. Por vezes, o leitor pode se sentir perdido na leitura, uma vez que o processo é como o que se passa na mente de uma pessoa: confuso, fora de ordem, ora com sentido, ora sem. E é aí que encontramos a genialidade do recurso.

Mas por que eu? Mas por que não eu. Se não tivesse sido eu, eu nao saberia, e tendo sido eu, eu soube — apenas isso. O que é que me havia chamado: a loucura ou a realidade? (p. 68)

A Paixão segundo G.H. é repleta de devaneios da narradora-personagem, G.H., a protagonista da obra. É um imenso monólogo em que ela discorre sobre a vida, sobre os medos, anseios, Deus, solitude…

Minha vida fora tão contínua quanto a morte. A vida é tão contínua que nós a dividimos em etapas, e uma delas é a morte. (p. 63)

A obra nos faz sentir diversas sensações e emoções. Há a experiência do choque quando G.H. encontra uma barata no armário da sua ex-empregada (que acabara de pedir as contas) e a partir daí, inicia-se mais uma série de reflexões e devaneios por meio daquele ser.

Percebemos que G.H. passa por certa desorganização interna, como ela mesma diz. Chegava a pensar que tudo n2ao passava de um imenso delírio, mas depois percebia que não era.

Na obra, por meio do fluxo de consciência, G.H. também mostra que possui forte espiritualidade e acredita no poder divino. Há passagens marcantes sobre isso.

Quanto mais precisamos, mais Deus existe. Quanto mais pudermos, mais Deus teremos. (p. 151)

Se só sabemos muito pouco de Deus, é porque precisamos pouco: só temos Dele o que fatalmente nos basta, só temos de Deus o que cabe a nós. (p. 150)

Por
Kelly Cominoti

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