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5 poemas de Manoel de Barros para se encantar

Olá, aventureiros!

Hoje tem dica de poesia ❤ Vamos conhecer um pouco sobre Manoel de Barros, um dos meus poetas favoritos, que transmitia de maneira singular o que observava e sentia por meio dos versos. Quero apresentar, neste post, 5 poemas do livro Menino do Mato.

Manoel de Barros é um dos grandes nomes que marcaram a nossa literatura. Ele foi um grande poeta! Mato-grossense, nasceu em 19 de dezembro de 1916, em Cuiabá.

Morou no Rio de Janeiro por um período, onde estudou em um colégio interno e ingressou no curso de Direito, em 1934. Em 1935, Manoel de Barros se filiou ao Partido Comunista Brasileiro.

Publicou seu primeiro livro na fase adulta, em 1937, intitulado: Poemas concebidos sem pecado.

Em 1941, exerceu a função de advogado. Entre 1943 e 1945, viajou por diversos países, como EUA, Itália e Peru. Em 1946, casou-se com Stella dos Santos Cruz.
Em 1958 herdou a fazenda do pai e tornou-se fazendeiro no Pantanal. Porém, ele nunca deixou o ofício de escritor. Continuou escreveu, publicou outros livros de poesia e recebeu diversos prêmios importantes, como o Prêmio Jabuti e o Prêmio Nacional de Literatura.

A poesia de Manol de Barros apresenta diversas características, como: regionalismo, metalinguagem, valorização da natureza, questões sociais e fatos cotidianos.


Escolhi 5 poemas do livro Menino do Mato, um dos últimos livros escritos pelo poeta, para compartilhar com vocês. As poesias do Manoel de Barros sempre me tocam e me emocionam. Por isso, deixo uma sugestão: ao lê-las, converse com elas, rabisque o livro, escreva por toda a parte! ❤

Menino do mato sintetiza com perfeição suas aspirações e seu estilo. Esse menino, que é a consciência do poeta, deseja apreender o mundo sem explicações ou propósitos. Na primeira das duas partes que compõem esta obra, Manoel reforça sua instintiva ligação com a natureza e a infância. Em sua procura por “palavras abençoadas pela inocência”, o poeta busca o universo em seu estado primordial. A segunda parte, “Caderno de aprendiz”, evidencia a absoluta liberdade de sua linguagem. Aqui, as palavras deixam de nomear para nos fazer simplesmente sentir a pureza dos primeiros tempos de nossas vidas.

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35

Eu queria fazer parte das árvores como os
pássaros fazem.
Eu queria fazer parte do orvalho como as
pedras fazem.
Eu só não queria significar.
Porque significar limita a imaginação.
E com pouca imaginação eu não poderia
fazer parte de uma árvore.
Como os pássaros fazem.
Então a razão me falou: o homem não
pode fazer parte do orvalho como as pedras
fazem.
Porque o homem não se transfigura senão
pelas palavras.
E isso era mesmo.


31

Os sonhos não têm comportamentos.
Sempre havia de existir nos sonhos daquele
menino o primitivismo do seu existir.
E as imagens que ele organizava com o
auxílio das suas palavras eram concretas.
Ele até chegou um dia a pegar na crina
do vento.
Era sonho?


21

Eu bem sabia que a nossa visão é um ato
poético do olhar.
Assim aquele dia eu vi a tarde desaberta
nas margens do rio.
Como um pássaro desaberto em cima de uma pedra
na beira do rio.
Depois eu quisera também que a minha palavra
fosse desaberta nas margens do rio.
Eu queria mesmo que as minhas palavras
fizessem parte do chão como os lagartos fazem.
Eu queria que minhas palavras de joelhos
no chão pudessem ouvir as origens da terra.


23

Tenho o privilégio de não saber quase tudo.
E isso explica
o resto.


I

Eu queria usar palavras de ave para escrever.
Onde a gente morava era um lugar imensamente e sem
nomeação.
Ali a gente brincava de brincar com palavras
tipo assim: Hoje eu vi uma formiga ajoelhada na pedra!
A Mãe que ouvira a brincadeira falou:
Já vem você com suas visões!
Porque formigas nem têm joelhos ajoelháveis
e nem há pedras de sacristias por aqui.
Isso é traquinagem da sua imaginação.
O menino tinha no olhar um silêncio de chão
e na sua voz uma candura de Fontes.
O Pai achava que a gente queria desver o mundo
para encontrar nas palavras novas coisas de ver
assim: eu via a manhã pousada sobre as margens do
rio do mesmo modo que uma garça aberta na solidão
de uma pedra.
Eram novidades que os meninos criavam com as suas
palavras.

Assim Bernardo emendou nova criação: Eu hoje vi um
sapo com olhar de árvore.
Então era preciso desver o mundo para sair daquele
lugar imensamente e sem lado.
A gente queria encontrar imagens de aves abençoadas
pela inocência.
O que a gente aprendia naquele lugar era só ignorâncias
para a gente bem entender a voz das águas e
dos caracóis.
A gente gostava das palavras quando elas perturbavam
o sentido normal das ideias.
Porque a gente também sabia que só os absurdos
enriquecem a poesia.


Por
Kelly Cominoti

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