Entrevistas

[ENTREVISTA COM O AUTOR] Flávio Sanso

Olá, aventureiros!

Hoje vamos conversar com Flávio Sanso, autor de Viva Ludovico. Confira a resenha escrita e em vídeo!


1- Viva Ludovico leva o leitor a refletir sobre o consumo de carne e a maneira como tratamos os animais. O que te inspirou a criar uma história com essa temática?

Certa vez, caminhando pela rua, me deparei com um grupo de jovens que entregava aos passantes folhetos em defesa dos animais. Para conscientizar as pessoas, eles mostravam um vídeo chocante em que se via como é o procedimento de abate de um boi. Parei para observar as imagens exibidas e, muito mais que a brutalidade da ação, o que em determinado instante me chamou a atenção foi o comportamento do homem que fazia o abate. Fixei o olhar nele e tentei imaginar qual seria a sua perspectiva. Será que os nervos se acostumam tão completamente à tarefa ingrata de esfolar um bicho pendurado e visivelmente aflito com a iminência da morte? Pois então por causa dessa sensação de impacto escrevi a primeira cena do livro, um tipo de introdução, e assim toda a história evoluiu a partir do que significa essa cena.


2- Estou em processo de tirar a carne da minha alimentação; por isso esse livro foi tão importante para mim. Qual é a sua relação com o consumo de carne?

Quando comecei a escrever o livro, confesso que não pretendia fazer qualquer tipo de militância a favor do vegetarismo ou veganismo. Só o que me orientava era trabalhar a relação conflituosa gerada por um ofício ao qual geralmente não atribuímos a dimensão problemática do ponto de vista psicológico. Mas ao longo do processo de escrita, foi inevitável que eu ampliasse a minha percepção sobre o tema relacionado aos reflexos do nosso desenfreado hábito alimentar na vida dos animais e sobretudo em todo o ambiente que nos cerca. Por isso, fui diminuindo drasticamente meu consumo de carne vermelha e hoje posso dizer que evitá-la completamente é um caminho natural. Creio que isso também vai acontecer em relação a qualquer tipo de carne. O curioso é que algumas pessoas que leram o livro, entre elas carnívoros convictos, me disseram que por causa dele passaram a repensar o consumo de carne ou ao menos já não sentem tanto prazer em mantê-lo. Isso me deixa muito satisfeito, principalmente porque não tem nada a ver com doutrinação ou convencimento. Esses leitores estão simplesmente lançando um outro olhar sobre a questão.


3- O leitor depara-se com o protagonista tendo o seu nome sendo revelado somente ao final da história. Ele é o açougueiro, o pipoqueiro e o vegetariano. Tenho minha interpretação sobre isso (e acho genial essa característica no desenvolvimento da história). Mas você poderia nos revelar o motivo de ter optado em revelar o nome somente no final?

Interessante você destacar esse que para mim é um dos principais elementos do livro. O fato é que a revelação do nome do personagem coincide com o momento em que ele enfim consegue alcançar um autoconhecimento. Ou seja, desde o início a falta de nomenclatura específica significa uma metáfora em que o personagem não se conhece e vai buscando conhecer-se, mesmo que às vezes nem saiba que isso está acontecendo. E, enfim, quando passamos a saber o nome dele é como se estivéssemos enxergando sua essência revelada. Mas pode ser que a interpretação esteja aberta a outros tipos de percepções, conforme seja a visão de mundo, a vivência e a experiência de cada leitor.


4- Você traz diversos temas muito relevantes sobre o cuidado que deveríamos ter com todos os animais. Quando fala sobre as “touradas”, quando os animais vão para a arena e são brutalmente feridos para entretenimento do público, não tem como o leitor não se comover. O que você pensa sobre isso?

Quando se discute como certas práticas impõem tamanha brutalidade aos animais, é comum que as justificativas recorram à tradição, como é o exemplo das touradas, ou ao sistema de cadeia alimentar, quanto aos métodos cruéis de abate. Acontece que o ser humano é regido (ou deveria ser) pela civilidade, que por óbvio paira sobre qualquer argumento que legitime a atrocidade. Tanto é assim que já existe a proibição das touradas em muitas regiões onde esse tipo de prática sempre foi tradicional. E também há algum movimento no sentido de garantir a coexistência entre humanos e outras espécies. Há nisso algum avanço, mas por outro lado impossível deixar de perceber também um grande atraso.


5- Como te disse em e-mail, achei sua escrita única, de forma que me prendeu na história e, quando vi, tinha terminado o livro rapidamente. Você pensa em escrever mais livros? Se sim, qual gênero/temática?

Tenho um livro que finalizei há pouco. É um romance ambientado no Rio do século XIX, envolvendo a questão da escravidão e que conta com alguns personagens historicamente conhecidos.


6- Deixe uma mensagem para seus leitores e futuros leitores também!

Estamos atravessando um período que nos exige atitudes que causam reflexos na vida de outras pessoas. Espero que por meio do livro que escrevi eu possa ter prestado uma singela contribuição para despertar nossa capacidade de pensar o outro, de se sentir no lugar do outro, de socorrer o mais frágil, de cooperar. Pode ser que tenhamos, sim, alternativas à barbárie.

Para adquirir o livro, clique aqui.
Site do autor: http://www.flaviosanso.com/

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